Black Harvest Film Festival 2024: Reflexões sobre a cidade em desenvolvimento | Festivais e Prêmios
Chicago está pronta para competir com Hollywood? Esta questão está em minha mente desde que voltei para Windy City em agosto. Há uma energia inegável aqui que nunca senti antes – e não estou sozinho. Desde a aclamação da crítica de “The Bear” do Hulu até a estreia do MUBI Fest nos EUA, Chicago está cheia de rumores sobre ser a “terceira costa” de oportunidades criativas. Após a edição recentemente reimaginada do 30º aniversário do Black Harvest Film Festival, acredito que é hora de repensar o domínio da Califórnia e de Nova York. O Centro-Oeste está fazendo sua voz ser ouvida.
Sob a direção da artista multidisciplinar, curadora e defensora cultural Jada-Amina, o Black Harvest Film Festival deste ano foi uma experiência incrível. O lançamento durante a semana das eleições foi uma jogada ousada para o festival revivido, mas valeu a pena. Harold Dennis, um famoso ator de Chicago e membro do Conselho Comunitário da BHFF, compartilhou: “A noite de estreia foi como nos velhos tempos -[people] enchendo o saguão, o corredor, por toda parte. O lugar estava lotado.” Para muitos, o festival proporcionou uma fuga muito necessária, inclusive eu.
O primeiro filme que vi depois dos resultados eleitorais foi “Black Table”, um documentário de John Antonio James e Bill Mack. Sentar naquele teatro cercado por cineastas e espectadores negros era como voltar para casa. Comunidade e união surgiram como temas recorrentes entre os participantes. A roteirista e diretora Sydney Lolita Cusic, criadora de “Away from Home”, captou melhor: “Chicago tem uma sensação de lar”. Ficar nos degraus do Gene Siskel Film Center, sentar em uma poltrona de teatro e olhar para a tela prateada dá ao público um momento de consolo.
Ao contrário da maioria dos locais na América, o Black Harvest Film Festival é construído por pessoas negras em sua essência – e isso fica evidente. Através da visão de Jada-Amina, a programação deste ano apresentou uma complexa tapeçaria da vida negra, desde o afrofuturismo e a experimentação de vanguarda até momentos mais calmos e íntimos. Destacou a narrativa universal que une os negros em todo o mundo. Como diz Jada-Amina com propriedade: “Isso não é novidade. É o mesmo de sempre. Há trauma epigenético, mas também há alegria epigenética”.
Porém, o sucesso do festival não se deve apenas a Jada-Amina e à sua equipa. Para muitos cineastas locais, o poder cinematográfico de Chicago é sempre evidente. Durante a entrevista com Jada-Amina, eles enfatizaram esse ponto, afirmando que Chicago não é de forma alguma a “terceira costa” – é a primeira. Com sua rica história cinematográfica, já é hora de a cidade receber o reconhecimento que merece.
O senso único de comunidade de Chicago atrai criativos de todas as esferas da vida. Ao contrário de Los Angeles, onde a superficialidade tende a prevalecer, Chicago incentiva a autenticidade. Esta cidade é o lar de algumas almas verdadeiramente notáveis, cuja arte reflete este verdadeiro espírito. Muitos cineastas que se mudaram para outros lugares voltaram para Chicago, compelidos pela atração. Como explica Cusic: “Em Chicago, há uma abertura para crescer, aprender e dar às pessoas oportunidades de mostrar seu talento”.
Os recentes desenvolvimentos no Cinespace também consolidaram a área de Chicago no mapa, criando muitos empregos para os habitantes locais. Entretanto, organizações como a Sisters in Cinema e a OTV estão a colmatar as lacunas na representação, garantindo que histórias de perspetivas marginalizadas sejam trazidas à luz. Iniciativas como o Filmmaker’s Mixtape Challenge de Briana Clearly também destacaram talentos locais, como Brendan Smith e Kin Marie do Brain Studios e Ahlaam Yasmin, compartilhando seu trabalho com um público mais amplo.
A cena criativa de Chicago está prosperando e o Black Harvest Film Festival é um exemplo de por que a cidade merece ser um centro cinematográfico. O cineasta Zach Smith, do Brain Studios, capta essa ideia, dizendo: “Temos muito poder em que pensar. Há muitas pessoas boas e famintas, mas os recursos são menores e o financiamento é maior. De muitas maneiras, isso não é novidade – especialmente para pessoas negras e queer – fazer algo sem uma razão. Há tanta beleza e mudança que vem desse espaço.
O crescimento do festival este ano sublinha a crescente influência de Chicago entre as comunidades cinematográficas do mundo. Com quase 700 inscrições e nove filmes impressionantes na noite de estreia – em comparação com quatro ou cinco anos atrás – fica claro que Black Harvest está caminhando na direção certa. Chicago não está apenas pronta para competir com Hollywood – ela está desenhando sua própria identidade única. Que venham mais 30 anos celebrando o amor negro e a vida negra na tela prateada.
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